O Senhor Jesus continua falando contra os hipócritas e acrescenta que, se quisermos viver em verdadeira retidão, devemos ser coerentes entre o que professamos e o que fazemos. Não devemos fingir que somos bons sem fazer boas obras. A analogia com a coerência que existe na natureza aplica-se ao sobrenatural. Não tem determinismo nas palavras do Redentor, pois a possibilidade de arrependimento, de conversão, de dar frutos, está sempre aberta.
O fruto revela a árvore, tal como a vida de cada um revela a intimidade da mesma pessoa. A beleza do ser humano não é reconhecida por ornamentos extrínsecos ou virtudes aparentes, mas por aquilo que a pessoa faz. Nos espinhos deste mundo não se encontram o fruto! Santo Ambrósio convida-nos a considerar como esta afirmação abre o paralelo da ressurreição. Porque a nossa vida é imperfeita na carne e é perfeita, encontrando a sua realização na ressurreição.
É por isso que o que é mundano devora a mente e dilacera a alma, e só pela diligente vigilância do coração podemos obter o fruto perfeito. Os figos e as uvas a que o Senhor Jesus se refere, prefiguram a doçura da nova vida no amor. Este ensinamento tem assim uma relação imediata com o ensinamento do Redentor sobre o homem velho e o homem novo: o tesouro que é o coração, é para a pessoa como as raízes para a árvore..
Quem tem no coração o tesouro da paciência e do amor perfeito, produz os melhores frutos, amando o inimigo e fazendo o bem acima descrito. Na qualidade das palavras pronunciadas, manifestamos o nosso coração de onde elas procedem e a inclinação dos nossos pensamentos. Se o nosso coração está contaminado, gera um diálogo que não dá testemunho do Logos, mas aumenta a contaminação.
Na segunda parte do Evangelho de hoje, o Senhor Jesus adverte contra o autoengano daqueles que se consideram cristãos, mas o são apenas em palavras. No Senhor Jesus há uma coerência absoluta entre a Palavra e a Vida, porque a Vida de Deus é Palavra para se comunicar à humanidade, a cada um de nós. Em vez disso, em cada um de nós existe o pecado e a necessidade de realinhar a própria vida com a própria fé todos os dias, a cada momento.
O ulterior ensinamento do Senhor ajuda-nos a compreender melhor o que significa ir com a nossa vida até Ele. A rocha é Cristo, e Jesus Cristo convida-nos a aprofundar os fundamentos da nossa vida, a cavar fundo, com humildade. Se formos humildes, Ele erradicará o mundanismo dos nossos corações, para que os nossos corações possam servir a Deus em tudo.
Colocar os alicerces da nossa vida sobre a rocha que é Cristo significa fixar a nossa fé na pessoa do Filho de Deus. Deste modo, permaneceremos firmes na adversidade. O fundamento consiste na decisão de viver firmemente no cumprimento dos mandamentos do Senhor. Assim, Jesus Cristo ensina que a obediência aos preceitos do Pai é o fundamento de todas as virtudes, e que, com estas virtudes, a nossa existência não pode ser subjugada nem pelas torrentes do prazer ou pela violência da fraqueza espiritual, nem pelos furacões deste mundo, nem pelas nebulosas disputas e discórdias na própria Igreja.
De fato, o risco de nos deixarmos dominar pode vir do demônio, de pessoas fracas ou do nosso próprio cansaço mental e corporal. E, enquanto confiarmos nos nossos próprios recursos, nas nossas próprias forças, estaremos sujeitos a ser arrastados e derrotados, mas se fundamentamos a nossa vida na rocha que é Deus, nunca seremos subjugados.
O demônio constrói sem alicerces, porque o pecado não tem alicerces, não pode sustentar-se com a sua própria natureza, porque o mal não tem substância.
Peçamos à Virgem Maria, nossa Mãe, para encontrarmos no seu Filho amado a substância da nossa vida, o fundamento e a rocha da nossa vida quotidiana.
Dom Giambattista Diquatro – Núncio Apostólico