Homilia – 13 de fevereiro de 2022

Capela da Nunciatura Apostólica

Primeira Leitura (Jr 17,5-8)
Segunda Leitura (1Cor 15,12.16-20)
Salmo Responsorial (Sl 1)
Evangelho  (Lc 6,17.20-26)

“Jesus desceu da montanha com os discípulos e parou num lugar plano”

Através de sua encarnação, Cristo se tornou um de nós. Este é o significado da encarnação. A descida simbólica à planície com que começa o fragmento do evangelho de hoje recorda a vinda de Jesus entre nós que São Paulo descreve na sua carta aos Filipenses: “Sendo Ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.”  (Fil 2, 6-8).

Estando no meio de homens, no meio de nós, Cristo “ensina” a multidão e ensina os seus discípulos. Estes ensinamentos estão centralizados nas bem-aventuranças, nelas Jesus apresenta o programa de vida de quem se faz o Seu discípulo.

S. Lucas diz que, lá na planície estava reunido uma grande multidão e os discípulos do Senhor, ou seja, não todos os que estavam escutando Jesus eram discípulos, pois o discípulo é aquele que não só escuta a Palavra, mas aquele que também tenta a segui-la e colocá-la em prática.

Diversamente de Marcos, onde encontramos Jesus ensinando as bem-aventuranças numa montanha, no evangelho de Lucas temos o sermão da planície. Isso, talvez podemos interpretar como uma indicação de que a vivência da fé acontece nas realidades comuns da vida, realidades marcadas por altos e baixos, por alegrias e tristezas, por desafios e esperanças. No nosso quotidiano em que vivemos, somos convidados por Deus a testemunhar a nossa fé, fazendo todo o possível para viver as bem-aventuranças e assim caminhar para uma vida harmoniosa e feliz na presença de Deus.

“Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!”

Antes de tudo é preciso deixar claro que Cristo não é contra os ricos. Pois, os evangelhos nos conta que Jesus vai à casa de Zaqueu, o rico cobrador de impostos (Lc 19,1), Jesus come com os publicanos que têm dinheiro (Lc 5,29), participa da festa na casa de Simão, o fariseu importante (Lc 7,36), Jesus permite que um grupo de mulheres que tiveram recursos pudesse segui-lo e aceita a ajuda financeira delas (Lc 8,3). Jesus não entra na luta das classes, Jesus não é contra ninguém, é difícil imaginar uma maldição “no coração daquele que veio para salvar e não para condenar” (Jo 3,17).

“Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Mc.10:23). Não é para os ricos que é difícil entrar no Reino de Deus, mas para “os que têm riquezas”. Uma pessoa pode ser materialmente pobre e ter riqueza. São aquelas coisas, grandes ou pequenas, as quais ligamos os nossos corações. O verdadeiramente pobre é aquele que está desapegado até da sua pobreza…

Aquele que se apega à sua vida a perde, mas quem a sacrifica, a guarda para a vida eterna. Se pode dar a própria vida de repente, em um momento – no martírio, mas se pode dá-la também pouco a pouco, com pequenos serviços e abnegações, dizia Santa Teresinha do Menino Jesus. Se dá um pouco de ti todos os dias, nos muitos sacrifícios da vida presente.

Ao longo de toda a nossa vida, aqui na terra, estamos chamados a esta escola de doação, esse aprendizagem do amor que se dá.

Amém.

Monsenhor Antons Prikulis – 1º Secretario