Homilia 23 de setembro de 2023 – Visita Pastoral na Arquidiocese de Montes Claros – MG

A página do Evangelho narra a parábola dos trabalhadores contratados ao dia pelo dono da vinha. Através desta narração, Jesus nos mostra a surpreendente maneira de agir de Deus, representada por duas atitudes do proprietário: a chamada e a recompensa.

    Primeiro, a chamada. Cinco vezes o proprietário de uma vinha vai à praça e chama para trabalhar para ele: às seis, às nove, às doze, às três e às cinco da tarde. É comovedora a imagem deste proprietário que vai várias vezes até a praça à procura de trabalhadores para a sua vinha. 

    Esse proprietário representa Deus que chama todos e chama sempre, a toda hora. Deus age desta forma, ainda hoje: Ele continua chamando todos, a qualquer hora, e convida para trabalhar no Seu Reino. Este é o estilo de Deus, que nós, por nossa vez, somos chamados a acolher e imitar. Ele não está fechado no seu mundo, mas “sai”: Deus sai continuamente à nossa procura, porque não quer que ninguém seja excluído do seu desígnio de amor.

    Também as nossas comunidades são chamadas a sair dos vários tipos de “fronteiras” que possam existir, para oferecer a todos a palavra de salvação que Jesus veio trazer. É uma questão de abertura a horizontes de vida que ofereçam esperança àqueles que estão estacionados nas periferias existenciais e, ainda não experimentaram ou perderam, a força e a luz do encontro com Cristo. A Igreja deve ser como Deus: sempre em saída. Deus sai sempre, porque é Pai, porque ama. A Igreja deve fazer o mesmo: sempre em saída.

    A segunda atitude do proprietário, que representa a atitude de Deus, é a sua forma de recompensar os trabalhadores. Como paga Deus? O proprietário concorda «um denário» com os primeiros trabalhadores contratados pela manhã. Àqueles que começaram mais tarde, ele diz: «tereis o salário que for justo» (v. 4). No final do dia, o dono da vinha manda dar a todos o mesmo pagamento, ou seja, um denário.

    Aqueles que trabalharam desde a manhã ficam indignados e lamentam-se contra o proprietário, mas ele insiste: quer dar a máxima recompensa a todos, mesmo aos que chegaram por último. Deus paga sempre o máximo: não paga só metade. Paga tudo. E aqui compreende-se que Jesus não fala do trabalho nem do salário justo, que é outro problema, mas fala do Reino de Deus e da bondade do Pai celeste que continuamente sai para convidar e paga o máximo a todos.

    De fato, Deus comporta-se desta forma: não olha para o tempo nem para os resultados, mas para a disponibilidade, olha para a generosidade com a qual nos colocamos ao Seu serviço.

    A sua ação é mais do que justa, no sentido de que vai além da justiça e manifesta-se na Graça. Tudo é Graça. A nossa salvação é Graça. A nossa santidade é Graça. Ao conceder-nos a Graça, Ele nos dá mais do que merecemos.  Recordemos quem foi o primeiro santo canonizado na Igreja: o Bom Ladrão. Ele “roubou” o Céu no último momento da sua vida: isto é Graça, assim é Deus.

    O nosso ganho é morrer com Cristo para a vida eterna, como diz São Paulo aos Filipenses na segunda leitura. É um sentido novo da vida, da existência humana, que consiste na comunhão com Jesus Cristo vivo; não só com um personagem histórico, um mestre de sabedoria, um líder religioso, mas com um homem no qual Deus habita pessoalmente. A sua morte e ressurreição é a Boa Nova que, partindo de Jerusalém, se destina a alcançar todos os homens e povos, e a transformar a partir de dentro todas as culturas, abrindo-as à verdade fundamental: Deus é amor, fez-se homem em Jesus e com o seu sacrifício resgatou a humanidade da escravidão do mal dando-lhe uma esperança certa.

    Que Maria Santíssima nos ajude a sentir todos os dias a alegria e a admiração de sermos chamados por Deus a trabalhar para Ele, no Seu campo que é o mundo, na Sua vinha que é a Igreja. E ter como nossa única recompensa o seu amor, a amizade com Jesus.

Dom Giambattista Diquatro – Núncio Apostólico