A primeira palavra é “missão”. A missão é quando o Espírito nos leva a sair, sair, sair sempre; mas se não houver o horizonte apostólico, haverá o perigo de errar e de sair não para levar uma mensagem, mas para “passear”, ou seja, sair mal. Em vez de percorrer um caminho de força, de sair de nós mesmos, entramos num labirinto, onde nunca conseguimos encontrar uma senda, ou erramos o caminho!
“Como posso estar certo de que a minha saída é aquela que o Senhor quer, aquela que o Senhor deseja de mim, tanto na formação como mais tarde?”. Há o bispo! O bispo é aquele que, em nome de Deus, diz: “Este é o caminho”. Tu podes ir ter com o bispo e dizer: “Sinto isto”, e ele discernirá se o caminho é aquele ou não. Mas, em definitivo, quem dá a missão é o bispo.
Não se pode viver o sacerdócio sem uma missão. O bispo não confia apenas um cargo “ocupa-te desta paróquia”, como o chefe de um banco atribui funções aos empregados. Não, o bispo dá uma missão: “Santifica aquela gente, leva Cristo àquelas pessoas”. Trata-se de outro nível. Por isso, é importante o diálogo com o bispo.
O bispo deve conhecê-los tais como são: cada um tem a sua personalidade, o seu modo de sentir, a sua maneira de pensar, as suas virtudes, os seus defeitos… O bispo é pai: é pai que ajuda a crescer, é pai que prepara para a missão. E quanto mais o bispo conhecer o sacerdote, menor será o perigo de errar na missão que lhe atribuirá. Não é possível ser um bom sacerdote, sem um diálogo filial com o bispo. Trata-se de algo inegociável, como alguns gostam de dizer.
Não somos funcionários da Igreja. Aqui tem o bispo, não uma assembleia onde se negocia o lugar. Tem um pai que faz a unidade: foi assim que Jesus quis. Um pai cria a unidade. É bonito quando Paulo escreve a Tito, que deixou Creta para “resolver” algumas questões. E fala das virtudes dos presbíteros, do bispo, dos leigos e também dos diáconos. Mas deixa o bispo para resolver: organizar no Espírito, que não equivale a consertar no organograma. A Igreja não é um organograma. É verdade que às vezes utilizamos um organograma para ser mais funcionais, mas a Igreja vai além do organograma, é outra coisa: é a vida, a vida “arrumada” no Espírito Santo.
E quem ocupa o lugar do pai? O bispo. O bispo não é o chefe da empresa! Não é aquele que comanda: “aqui sou eu que mando”; alguns obedecem, outros fazem de conta que obedecem e outros ainda fazem nada. Não, o bispo é o pai, é fecundo, é aquele que gera a missão. Esta palavra, missão, está carregada, cheia da vontade de Jesus, carregada de Espírito Santo.
Por isso, recomendo-lhes, no Seminário aprendam a ver no bispo o pai que foi colocado ali para ajudá-los a crescer, a ir em frente, e para acompanhá-los nos momentos do apostolado de vocês: nos momentos bons e ruins, mas sempre para acompanhá-los; nos momentos de sucesso, nos períodos de derrota, que todos sempre têm na vida…
Outra questão refere-se ao barro do oleiro. Jeremias diz: quando o vaso que o oleiro modela não lhe sai bem, o faz de novo. Enquanto modela o vaso e algo não funciona, tem tempo para retirar tudo e refazê-lo; mas quando o vaso está cozido… Por favor, deixem-se formar. O que os formadores pedem não são caprichos. Se vocês não concordam, falem sobre isto. Mas sejam homens, não crianças; homens corajosos. É importante dizer aquilo que sente. É assim que pode formar a personalidade para ser um vaso cheio de graça. Mas, se permanecer calado e não dialogar, não revelar as suas dificuldades, não disser quais são os seus anseios apostólicos, uma vez “cozido” por assim dizer, não conseguirá mais mudar. É verdade que às vezes não é agradável que o oleiro intervenha de modo decidido, mas é para o bem. Deixe-se plasmar, antes do cozimento.
Além destas, mais duas considerações: Em que consiste a espiritualidade do clero diocesano? Como dizia um sacerdote: “Eu sigo a espiritualidade da congregação religiosa fundada por São Pedro”. Qual é a espiritualidade do clero diocesano? É a diocesanidade. A diocesanidade tem três abordagens, três relações. A primeira é a relação com o bispo, mas já falei suficientemente: não se pode ser um bom sacerdote diocesano, sem a relação com o bispo.
Segunda: a relação no presbitério. Amizade. É verdade que não se pode ser amigo íntimo de todos, porque não somos iguais, mas sim bons irmãos, que se estimam mutuamente. E qual é o sinal de que em um presbitério tem irmandade, fraternidade? Qual é o sinal? Quando não tem tagarelice. A bisbilhotice, o mexerico é a peste do presbitério. Se você tem alguma coisa contra ele, diz-lhe na cara. Fala com ele de homem para homem. Mas não fale mal dele pelas costas: isto não é de homem! Não digo de homem espiritual, não, simplesmente não é de homem!
O que acontece quando num presbitério não tem mexericos, quando aquela porta permanece fechada? Bem, tem um pouco de barulho, nas reuniões as pessoas dizem tudo na cara, “não estão de acordo!”, levantam um pouco a voz…, Mas como irmãos! Brigar na verdade. E depois, cuidar dos irmãos… alguns me são antipáticos, eu sou antipático para outros, isto é natural na vida, mas o nível da nossa consagração leva-nos para outro rumo, leva-nos a ser harmoniosos, a viver em harmonia.
Esta é uma graça que vocês devem pedir ao Espírito Santo. Aquela frase de São Basílio — que segundo alguns não era de São Basílio — no Tratado sobre o Espírito Santo: “Ipse harmonia est”, Ele é a harmonia! O Espírito Santo parece um pouco estranho, porque com os carismas — pois todos vocês são diferentes — cria, digamos assim, uma certa desordem: todos diferentes! Mas depois, tem o poder de transformar aquela desordem numa ordem mais rica, com muitos carismas diferentes, que não anulam a personalidade de cada um. É o Espírito Santo quem cria a unidade: a unidade no presbitério. A relação com o bispo, o relacionamento no clero.
Terceiro: a relação com o povo de Deus. Somos chamados pelo Senhor para servir o Senhor no povo de Deus. Aliás, fomos tirados do povo de Deus! Isto ajuda muito! A memória de Amós. Cada um de nós foi tirado do povo de Deus, foi escolhido, e não podemos esquecer de onde viemos. Porque muitas vezes, quando esquecemos isto, caímos no clericalismo e esquecemos o povo do qual saímos. O Senhor tirou-nos dali, do povo de Deus. Porque com isto, com esta memória, saberão falar ao povo de Deus, servir o povo de Deus. O sacerdote que vem do povo e não se esquece que foi tirado do povo, da comunidade cristã, e está ao serviço do povo. O clericalismo é a nossa pior perversão. O Senhor quer que vocês sejam pastores, pastores de povo, não clérigos de Estado.
Esta é a nossa espiritualidade, do sacerdote diocesano: a relação com o bispo, o relacionamento entre nós e o contato, a relação com o povo de Deus na memória — de onde venho — e no serviço — para onde vou. E como devemos agir para fazer crescer isto? Através da vida espiritual.
Vocês têm um padre espiritual: abram o coração ao padre espiritual. E ele lhes ensinará a rezar, ensinar-lhes-á a oração, a amar Nossa Senhora…: não esqueçam disto, porque Ela está sempre próxima da vocação de cada um de vocês. Dialoguem com o padre espiritual. Ele não é um inspetor da consciência, é alguém que, em nome do bispo, os ajuda a crescer na vida espiritual.
Dom Giambattista Diquatro – Núncio Apostólico